Postagem especial apenas para relembrar um trabalho que, sem dúvida, teve grande importância na minha formação em dança e em pensamento sobre a dança. Nesta performance, planejei ficar durante 24h repetindo uma mesma movimentação na perspectiva de estudo de movimento, porém os eventos apenas permitiram a realização desta performance por cerca de 11h. A realizei inicialmente no I Encontro de Arte Contemporânea do CEFET-RN e ainda no mesmo ano na V
Reunião da ABRACE como demonstração prática do trabalho “Disfunctorium e oMuseu do Perecível: Estilhaços de Corpos na Cena Potiguar” apresentado
pelo Professor Doutor Alex Beigui, junto ao Projeto Disfunctorium, grupo do qual participei durante dois anos.
Experiência riquíssima por ser minha primeira performance de longa duração e também porque com ela pude compreender de que se trata a dança em sua perspectiva mais significante, tal entendimento se deu pela sensação que tive após parar completamente depois de 11h de movimento contínuo. Senti que o movimento continuava internamente quase que querendo se fazer externo, um impulso que se dava pela necessidade do movimento impresso no meu corpo depois de horas de processo de investigação.
Hoje, retomando minhas experiências de movimento, me dei conta que esta sensação me fez perceber que não há coreografia que baste, não há virtuosismo que seja suficiente a esta necessidade que pulsa nos que dançam. Abaixo segue um texto escrito depois da primeira experiência, no CEFET-RN, texto originalmente publicado no blog do Projeto Disfunctorium.
Aproveito para agradecer a todos que passaram comigo por esta e outras experiências, membros do Projeto Disfunctorium que contribuíram diretamente para minha formação enquanto pessoa, artista.
"Apreensão desde o início... Não consegui dormir, comer: medo. Mesmo sabendo que tudo poderia acabar a qualquer momento, é só dizer não. Essa negação não sairia de mim, tinha que sair, tinha que sair.
Chegada: muito cedo.Espera: longa, mas mais curta do que eu gostaria que fosse.
Preparação: simples, como seriam as doze horas.
Arruma-se o pano, a flor, o azul que saiu duas horas depois, do qual me lembrei até o fim da noite: a flor doce que me embrulha o estômago. Não era fome, não era sede,
não era...
O último beijo antes no início da eternidade.
Movimento, movimento, linhas, toques e, dores. As dores somem, ao me tocar pareço não estar me tocando: suor, aspereza. Sono, não,
eu apenas esquecia...
Pessoas vinham e iam, e eu ali.
Energias se renovavam, e eu ali.
A concentração ia embora, e eu ali.
A dor segue o caminho, e eu ali.
A concentração voltou, apenas uma vez, por algumas horas antes de ceder seu lugar para a realidade que apagava.
O Sol me persegue, a eternidade do crepúsculo.
Muda a partitura: acentos, fluxo, tônus. Até que o cansaço: MUDA TUDO. Movimentos tomam uma nova forma. De dentro, o avesso.
O frio treme.
O calor engrandece.
O medo intimida.
As dores quebram.
E eu ali.
Espaço branco me cobria, paredes. Ninguém toca. Nada. Ninguém entra.
Todos olham.
Comeu? Não! O que é? É! Pra que serve? Sim... Eu sei, ele explica. Ele me olha, ele me cuida, nunca pareceu tão longe... O espaço branco.
Uma criança na chuva.
Pára!
Não to mais aguentando!
Não sei!
Falta pouco, só mais um pouco...
Dez horas e alguns relevantes minutos."
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