1 de maio de 2011

MANIFESTO DA FOME

Fome. A favor ou contra nossa vontade nós artistas aprendemos desde cedo a lidar com ela. Não me refiro aqui à fome provocada pela privação do alimento, mas sim àquela fome que nos faz continuar nossa trajetória, a busca pelo confronto de questões. O artista assume sua incompletude e imperfeição e aceita como profissão a arte de se jogar em abismos, de desejar os desacertos sem receber nada em troca. Algumas vezes nada mesmo.
Esse é o tipo de coisa que vez ou outra se ouve dizer naqueles raros momentos em que artistas são aclamados e lembrados por suas obras. Mas será realmente necessário morrer cultivando a fome esperando ser reconhecido por seus contemporâneos?
Nossa sociedade é cega ao que se produz artisticamente nos dias de hoje, não há incentivos, não há salários, o artista sobrevive unicamente de sua própria fome. A arte que é produzida hoje por artistas famosos tende a suprir as demandas consumistas imperialistas que clamam por produções que sejam rápidas e que agradem a massa. A arte do terceiro mundo latino perde a cada dia seu sentido primeiro de provocação a questionamentos, reflexões, transformações e a resistência.
Não podemos culpar a sociedade por reações que foram provocadas apenas por nossas ações. É preciso afirmar a importância da arte como ciência de desconstrução do humano que, nos dias de hoje, é caracterizado pela impessoalidade e fugacidade das ações de uma vida. Para tanto é necessária uma mudança de atitude por parte dos artistas para que esta provoque uma mudança no pensar da sociedade.
1. É preciso dedicar-se a ensinar sua arte.
2. Deve-se ir de encontro a pessoas que se utilizam da arte como mecanismo apenas para chamar a atenção para si. Depois de criada, a obra de arte pertence ao mundo e não mais ao artista.
3. Artistas não são pobres coitados, são apenas pessoas que, como qualquer outra, buscam ganhar dinheiro com sua profissão.
4. A arte não é um bem exclusivo de poucos.
5. Desconfie de pessoas que dizem ensinar arte sem que ao menos tenham experimentado a condição de artista.
6. A arte faz pensar e não emburrece, arte não é apenas entretenimento.

É contraditório que, no terceiro mundo caracterizado pela comum miséria e fome das minorias, os artistas tenham escolhido viver da fome. Mas nós acreditamos no humano e, com nossas ações, esperamos promover mudanças que aliviem os egoísmos causados pelas dinâmicas atuais de vida e de morte.

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