O processo de criação teve início no dia 4 de fevereiro, quando tive minha primeira reunião com Naira Ciotti, minha orientadora acadêmica, que praticamente não me apresentou outra alternativa que não fosse a criação de um extrato cênico para compor a parte prática do meu TCC que seria seguida pela parte teórica que trataria de uma reflexão sobre o processo de criação. Levei algumas semanas para encontrar o que poderia caracterizar como um esboço de tema gerador do extrato cênico e finalmente cheguei à conclusão de que deveria tocar na antiga questão do pertencimento e ligações corporais aos espaços que fazem parte do meu cotidiano.
Quando fala-se de pertencimento, deve-se tratar de um espaço ao qual se pertence, pelo qual se é afetado, um lugar (AUGÉ:1994). Minha primeira opção foi o espaço do Departamento de Artes da UFRN, onde estou completando minha graduação num período de quatro anos e meio, e tive contato com questões e referência teóricas que moldaram no decorrer do tempo meu pensamento sobre a arte e sobre mim mesma. Ainda nesta perspectiva, podemos dizer que pertencemos à vários espaços durante nossa vida, dessa forma, não poderia reduzir minha trajetória artística aos anos que passei na graduação, visto que meus primeiros estudos se deram quando ainda nem sabia se a arte me interessaria, em São Paulo.
Em reunião com André Bezerra, responsável pela idealização do espaço cênico e plano de iluminação, fiz uma retomada de todos os espaços que caracterizavam lugares para mim, e a partir destes ele construiu um mapa do espaço cênico. O referido espaço apresenta também um caracter instalacional por reproduzir lembranças como casas de bonecas que eu construía com caixas de sapatos ou mesmo as tendas feitas de lençóis que abrigavam a mim e à alguns dos meus brinquedos preferidos.
Cada espaço caracteriza um estado energético, uma qualidade de movimentação e traz consigo ações características à ele. Foi preciso que eu me permitisse conversar com o espaço e com seus elementos, ao invés que criar as movimentações para compor a partir delas o espaço. Essa inversão de perspectiva, facilitada pela presença de um profissional específico para a criação do espaço, trouxe um desafio aos meus "métodos de criação" aos quais o movimento por si se bastava e o espaço e a palavra estariam em segundo plano.
Ao supor vários espaços construídos dentro de um outro espaço (o Teatro Laboratório Jesiel Figueiredo), me deparei com um procedimento bastante utilizado nas aulas de Encenação I, da professora Naira Ciotti. Trata-se do procedimento Travessia com o qual ela teve contato no período em que estudou com o professor Renato Cohen, em São Paulo. A travessia é um procedimento aparente mente simples, que podemos definir como a ida de um espaço a outro norteada por uma questão de ordem pessoal, política, artística.
Dentro dessa perspectiva o trabalho que vem sendo realizado na sala de ensaio consiste nos estudos sobre as Travessias entre os espaços e a organização das ações a partir dos objetos e espaços que acena apresenta. É válido ressaltar que trabalhamos a partir de esboços de cenas, de espaços e de movimentações e que estes sem dúvida estarão eternamente em processo de construção e modificação.
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